Ditadura da moda

Gigi Hadid com as futuramente demodé (será?) skinny jeans

Às vezes deparo-me com artigos das supostas autoridades da moda com títulos patetas, tais como:

"Está na altura de pôr as suas skinny jeans de lado"
"O cabelo comprido já não se usa"
"As peças que todas as mulheres devem ter"

Ora, eu sei que a indústria da moda vive da mudança e da renovação permanente. Eu sei que as tendências mudam e que é mais fácil fazer jornalismo através de afirmações peremptórias como "a partir de 2016 não se vão usar vestidos" (exemplo parvo). No entanto, há alguma alminha que, após a leitura de um artigo deste género, se tenha encaminhado para uma loja para adquirir as tais "10 peças obrigatórias" ou se tenha livrado das roupas em tom marsala agora que o rose quartz é a cor que está na berra segundo a Pantone?

É óbvio que o objectivo de quem vive desta indústria tem de passar pelo lucro. Dado que todas as mulheres que conheço usam calças skinny, torná-las obsoletas vai obviamente gerar dinheiro. Isto se os consumidores não fossem seres pensantes e se regessem apenas pelos ditames da moda. O que não se adequa a uma era em que a informação está cada vez mais acessível e o acesso à roupa mais democrático. Penso eu. 

Seria preciso bater com a cabeça numa pedra para voltar a usar certas tendências que infelizmente viram a luz nos anos 90. Como as calças baggy ou as camisas de flanela. E as calças à boca de sino com franjinhas? Já me estou a arrepiar. Podem pôr todas as Gigis Hadid e as Olivias Palermo deste mundo a usarem esta tendência. Eu sei que é água que não voltarei a beber.

Mas o que me irrita aqui é a imposição. Não há peças básicas que todas as mulheres devam ter. Apercebi-me disso depois de comprar uns quantos livros de moda que, em suma, diziam todos o mesmo. Há tantos estilos diferentes. Ou vão enfiar uma gótica num trench-coat? Não faz sentido, porque não há fórmulas. Não há uma fórmula para o estilo, na verdade. Grandes ícones como a Audrey Hepburn, a Brigitte Bardot ou a Jane Birkin tinham estilos completamente diferentes e únicos, que lhes ficavam bem.

Esse é o truque: auto-conhecimento. Que equivale, basicamente, a ignorar todas essas tretas que nos impingem a toda a hora. Cada vez me estou mais a borrifar para as tendências. Gosto de ir vendo o que aparece nas lojas, gosto de acompanhar o que as celebridades usam, mas jamais volto a usar alguma coisa só porque está na berra. E não pretendo abdicar das skinny jeans tão cedo ou do cabelo comprido, lamento.

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