Em Lisboa come-se bom ceviche

Quem me acompanha no Zomato (aqui) sabe quais têm sido as experiências gastronómicas que têm feito as minhas delicias nos últimos meses. Além do que tenho falado por aqui, dos sítios que experimentei em Évora e no Porto mais recentemente, também tive oportunidade de conhecer - e provar! - bons pratos em Lisboa ao longo deste ano. Hoje falo-vos do restaurante que pôs o ceviche nas bocas do mundo (no que aos lisboetas diz respeito, pelo menos), do cada vez mais aclamado Chef Kiko. 

A Cevicheria


Este é um dos restaurantes que tinha na wishlist (sim, eu tenho listas para tudo) e felizmente não saí de lá com as expectativas goradas. O espaço é pequeno e é imperativo ir para lá bem cedo. Nós fomos às sete e por volta das oito já estávamos sentados. Mas vi gente que já estava à espera quando nos sentámos e quando nos levantámos para ir embora ainda lá estava. Isto agrava-se quanto maior é o grupo, naturalmente. Por isso o conselho que dou a quem queira experimentar este espaço tão concorrido é este: ir bem cedo. Especialmente se forem no fim-de-semana, como nós fomos.


Para começar pedimos dois Pisco Sours, o cocktail típico peruano que leva pisco (uma espécie de água-ardente), limão, açúcar, clara de ovo, gelo e uma pitada de pimenta. Não é o meu cocktail preferido (serei sempre fiel a ti, mojito!) mas é bastante bom e acompanha o ceviche na perfeição.


Começámos bem pelo couvert, que inclui duas fatias de pão tostado e pão de milho da casa, acompanhados por uma quantidade generosa de milho peruano, a cancha, ligeiramente salgado. Gostei muito da manteiga com ervas e também do molho que vinha para mergulhar o pão.


Como foi a primeira vez na Cevicheria optámos pelo menu de degustação - na minha opinião a melhor maneira de conhecer o ADN de um restaurante - que inclui seis pratos. Começou com um belíssimo gaspacho de vieiras, que inclui tapioca, lima e ovas. Uma inusitada combinação, suave e surpreendente. Mas o melhor ainda estava para vir.


Este foi o meu prato preferido de toda a refeição. Isto porque sou fã de ceviche e este foi sem  dúvida o melhor que comi na vida. O nome do prato, ceviche puro, não vem por acaso, dado que esta é a receita tradicional da iguaria peruana. Leva peixe branco da época, puré de batata doce, cebola, algas e leite de trigo. Só não lambi o prato porque, apesar de estar deliciada, ainda tenho maneiras.


Começo por fazer a ressalva que não sou a maior fã de atum. Gosto, mas está longe de figurar entre os meus peixes preferidos. Por isso este ceviche não me agradou tanto quanto poderá agradar a outras pessoas com mais afinidade pelo bicho, diga-se. No entanto, não foi por isso que não me soube bem, especialmente por conter uma mistura tão invulgar de ingredientes: atum, foie gras, líchias, avelãs e leite de tigre com beterraba. É uma surpresa constante para o palato, isso vos garanto.


O quinoto do mar é um dos ex-libris da carta, que estava para ser substituído mas perdura por insistência da clientela. E ainda bem, senão nunca o teria chegado a provar! Acho que nunca tinha provado um prato que fosse uma metáfora tão boa do que é o mar. Sim, acho que é essa a maneira de o descrever. A espuma de ostras e kambu é óptima e pode remeter-nos para a espuma das ondas, e depois temos o peixe branco, o berbigão, o mexilhão e o camarão a representar a riquíssima fauna do oceano e até as algas que nos dão um cheirinho da sua flora. É uma belíssima alegoria, mas uma iguaria ainda melhor. Vale a pena visitar o restaurante só por isto.


O último prato (sem contar com a sobremesa) foi a causa de polvo. A causa é um prato peruano à base de batata. Neste caso incluía polvo assado, puré de batata preto, cebola, pimento padrón, courato e molho BBQ (e por cima deu-me ideia que tinha pipocas - sim, pipocas!). É um óptimo prato, bem executado, mas admito que não me causou o espanto dos outros. Para os apetites mais convencionais penso que é das melhores apostas da carta.


A sobremesa confirmou-me que este é um restaurante de excelência. Se há algo que me irrita é quando um bom restaurante se esmera em tudo e se esquece das sobremesas - é tal e qual como um bom livro com um final menos bem conseguido - mas este está longe de ser o caso da Cevicheria. Esta sobremesa leva cremoso de chocolate (uma mousse bem intensa), crumble de amendoim, bolo de banana e caramelo salgado. E se a combinação de ingredientes só podia resultar numa sobremesa bem deliciosa e decadente, as texturas não ficam nada atrás. Só pecou por não vir em maior quantidade (isto é a minha gula a falar - não liguem).

Resumindo e concluindo, foi uma óptima experiência, que deixou muita vontade de regressar. Os preços são salgadinhos, mas justos, o que faz deste restaurante o sítio ideal para comemorar uma ocasião especial.

0 Comentários