Qual é a lógica do armário-cápsula?



Gostar de moda não tem de significar ser consumista. Se também reviras os olhos quando ouves alguém justificar uma compra dizendo que “é tendência”, este post é para ti. Cada vez mais fujo das tendências excessivas que se propagam pelos nossos feeds de Instagram ad nauseam. Este verão temos várias e algumas que só ficam bem a uma percentagem mínima da população, como os óculos cat eye reduzidíssimos. Parece que a saia em padrão leopardo é a próxima peça viral. Isto pode causar duas reações: incentivar a compra ou dar vontade de fugir a sete pés. Adivinhem em qual das categorias me insiro.

Não gosto de consumo irrefletido e desenfreado e de ter o guarda-roupa saturado de peças que não visto e/ou não me ficam bem. Por isso cada vez mais tento fazer compras pensadas e conscientes. Se estiver hesitante em comprar uma peça, deixo-a na loja em vez de pensar que depois a “faço funcionar”. Normalmente não faço e ele fica perdida no armário, dando-me uma sensação de culpa de cada vez que a vejo. Se te revês neste cenário, se calhar está na hora de te familiarizares com o conceito de armário-cápsula.

O conceito de capsule wardrobe, ou armário-cápsula, surgiu na década de 70, com Susie Faux, que o descrevia como “uma coleção de peças básicas e atemporais que, aliadas a peças de estação, deixam a pessoa sempre bem vestida e atual”. Este consiste num guarda-roupa com uma quantidade limitada de peças para vestir durante um tempo determinado, sem comprar nada novo e fazendo combinações apenas com as peças existentes.

O número de peças que se pode ter num armário cápsula é variável, podendo ir das 15 às 50. Tudo depende se se considera uma estação ou o ano inteiro e, claro, com quantas peças desejamos ficar.

O melhor livro para vos explicar este conceito é o The Curated Closet, da Anuschka Rees. É extremamente detalhado e ensina a escolher uma paleta de cores (deve ser limitada para criar um guarda-roupa versátil), a comprar roupas no tamanho adequado e a saber a qualidade dos tecidos. Tem também um exercício muito giro, em que temos de descrever o nosso estilo, o que ajuda a defini-lo. Já o li no início do ano, por isso não vos consigo explicar melhor que isto. É ler! Dá para comprar no Book Depository, na Fnac ou na Wook.

Apesar de não aplicar os fundamentos do armário-cápsula à risca – não conto peças – sinto que os aplico de forma indireta no meu guarda-roupa. Eu e o Paulo vivemos num T1 e, para mal dos meus pecados, tenho muito pouco espaço para guardar roupa. Ou seja, as peças que não uso não têm lugar nesse cenário. Não existe absolutamente nada no meu armário que não vista. Às vezes é difícil ser tão implacável, mas acreditem que nos poupa muito tempo precioso e nos dá uma noção real de quantas roupas temos à disposição.

De acordo com uma pesquisa realizada no Reino Unido, as mulheres britânicas só usam 44% das roupas que têm no armário, sendo que um armário médio é composto por 152 peças. Isto significa que mais de metade do guarda-roupa destas mulheres fica a ganhar pó! A mesma pesquisa revela que as mulheres levam uma média de 17 minutos para escolher a roupa de manhã. Estes 17 minutos equivalem a 100 horas num ano. Aparentemente, acumular coisas não é mau só em termos de espaço.

Comprar com consciência não traz benefícios apenas para a nossa carteira e organização, mas é também muito mais sustentável. Fiquei horrorizada quando vi o documentário The True Cost, que fala dos efeitos perversos que o consumo desmesurado tem, não só para o planeta, mas também para a mão-de-obra, explorada para que possamos comprar roupas cada vez mais baratas.

Comprar de acordo com as tendências tem ainda mais aspetos negativos. Há tendências que não favorecem ninguém ou que ficam bem a 2% da população. Há uma grande probabilidade de veres as tuas fotos daqui a uns anos e de não perceberes o que te passou pela cabeça para usares a tendência X. Dou um exemplo. Lembram-se daquelas calças de ganga que iam quase até ao peito que estiveram na moda em 2007? Na altura tive umas e hoje acho-as terríveis.

Em termos estritamente comerciais, é muito vantajoso convencerem-nos de que precisamos de ter uma determinada peça para ter estilo e ser cool. Afinal, a finalidade do marketing não é apenas de ir ao encontro das nossas necessidades, mas também de as criar. Se as calças skinny continuassem na berra, durante anos não teríamos motivos para comprar calças de ganga e isso não é nada bom para a indústria, pois não? By the way, eu continuo a usar as minhas, porque me estou a borrifar para isso.

Estou a dizer isto, mas adoro ir às compras. Infelizmente, nunca cheguei ao ponto em que pudesse dizer que não preciso de nada [especialmente quando chega o frio, em que questiono sempre o que raio usei no inverno anterior]. O quer procuro evitar é fazer muitas compras e não ter nada de jeito. Isto acontece se não tivermos foco e critérios, e se nos deixarmos levar pela maré. Não é por uma peça ficar lindamente na nossa influencer preferida, que nos vai ficar bem a nós.

Uma das coisas que faço há anos é definir, no início da estação, quais são as peças que preciso de comprar. Como, por exemplo, “sobretudo preto”, “calças brancas” ou “sabrinas em padrão leopardo”. Começa por ser algo genérico, que se vai definindo à medida que as coleções vão chegando às lojas. É ótimo para evitar que vamos às compras e compremos peças que não dão com nada. Não interessa ser apenas algo de que gostamos, tem de fazer sentido num todo que já existe e no nosso estilo pessoal.

No início da estação também é importante fazer uma triagem do que já se tem, evitando ser demasiado sentimental. Se uma peça não foi barata, mas já não tem nada a ver connosco, é altura de seguir para alguém que lhe dê melhor uso. Não vale a pena pensar “ah, mas eu usei esta saia no primeiro dia do 10.º ano”, por exemplo. [Sim, há pessoas que se agarram a tudo só para evitar o processo de decisão de abdicar de uma peça.] Também não vai haver nenhuma hecatombe que vá fazer com que aquela t-shirt coçada se torne muito útil de repente.

Outro dos truques para ter peças mais duráveis é prestar muita atenção à composição das roupas. És daquelas pessoas que nem olha para as etiquetas? Fazes mal, pois podes estar a comprar acrílico ao preço de merino ou poliéster ao preço da seda. Muitas vezes, até as melhores marcas fazem roupa com tecidos manhosos. Por exemplo, no outro dia achei graça a este casaco da Zara, mas fiquei de pé atrás quando vi a composição do tecido (96% poliéster e 4% elastano). Quando o vi ao vivo tirei as dúvidas, tem mesmo um ar rasco.

Por mais que gostemos de comprar roupa, acho que o objetivo é sempre o mesmo, termos um guarda-roupa que adoremos e que se adeque ao nosso estilo pessoal. Por isso é muito importante refletir, experimentar, planificar e nunca comprar só porque é tendência ou porque fica bem noutra pessoa. É meio caminho andado para acabarmos com mais uma peça esquecida no fundo do armário.




O que tenho vestido:

T-shirt - H&M
Calças - Pepe Jeans (coleção passada)
Mala - Longchamp Le Pliage
Ténis - Vans
Óculos - Ray-Ban
Colares - Ginger e Florence da CINCO

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